MÍSTICA, MISTAGOGIA E LITURGIA: Por uma experiência mais vivencial
Paralelamente,
nota-se na atual conjuntura eclesial um ‘sentimento coletivo’ de “cansaço”. Muitas
lideranças e agentes de pastorais se queixam da participação dos fiéis nas
atividades comunitárias. Por muitas vezes, a assembleia se apresenta como
“fria” e sem expressão ativa. Assim, os projetos não caminham, os membros de
pastorais e movimentos conservam suas estruturas e não apresentam perspectivas
de novas ações.
Direcionando um pouco mais o
olhar em alguns aspectos da realidade eclesial, nota-se que também há ministros
ordenados e coordenadores de pastorais/comunidades com sede e ânsia no trabalho
paroquial/comunitário. Isso é louvável! No entanto, em contrapartida, nestes
intentos não há mística e nem mistagogia na espiritualidade. Sendo que, muitos
são os carismas dentro da comunidade, mas sem a espiritualidade – que é o próprio
Jesus Cristo – o carisma não se sustenta.
Wellistony[3]
apresenta uma questão pertinente frente a tudo isso: Os padres – e acrescento:
os líderes e agentes de pastorais – precisam ser “místicos”. Atualmente, muitos
leigos estão “avançando para águas mais profundas”. Estão procurando crescer e
aprofundar a dimensão espiritual da vida. Enquanto isso, os responsáveis pelas
comunidades estão ficando à margem vendo os “barcos” se distanciarem. Uma vez
distantes, como novamente se aproximar quando se está em ‘alto mar’?!
Existem leigos sedentos, mas convém
ressaltar que também há aqueles que não assumem um compromisso na comunidade. Muitos
são os ministros ativos e conscientes, mas em contrapartida, existem aqueles
que entraram no modismo do “cansaço”. E estes, por sua vez, são um grupo
significante. Não se justifica, mas, como exigir da comunidade se as próprias
lideranças não experimentam o Mistério!? Como falar do Mistério se os próprios
ministros não o vivenciam?!
Karl Rahner, em sua conhecida
frase, parece estar certo quando afirmou que “no futuro o cristão ou será
místico ou não será cristão”[4].
Mas isso não exime a responsabilidade do leigo em agir de modo ativo, pleno e
consciente sua própria vocação batismal. Se antes do Vaticano II os fiéis não participavam
ativamente da divina liturgia porque o rito era em latim, era muito diferente
da cultura local, porque o ministro se colocava distante do povo... E hoje, por
que será?
Acredito que quando os fiéis
pedem uma missa diferente e animada, não é exatamente isso que querem dizer.
Porque podem até celebrar uma missa ‘bem animada’ cheia de firulas, no entanto,
provavelmente no próximo mês estarão pedindo outra coisa diferente... Quando os
fiéis pedem algo assim, somente estão usando da linguagem que está ao seu
alcance. Mas, na verdade, o que querem dizer é que falta às celebrações um
caráter místico e mistagógico, falta sabor e vivacidade. A perfeita liturgia é
só no céu! Mas, quem disse que aqui na terra, em nossas celebrações litúrgicas,
não podemos sentir o perfume do céu?!
Viver o Mistério também é
acreditar em uma “liturgia contemplativa”, onde o interior dos fiéis se
expressa na voz da assembleia. A intimidade pessoal com Deus gera na liturgia
uma experiência comunitária que se manifestará na escuta da Palavra, no
silêncio, nos cantos, na Eucaristia, na oração e na partilha. É preciso
resgatar uma experiência pessoal na liturgia, longe do intimismo e do
subjetivismo, propagado pelo materialismo e o secularismo do mundo. A mística
não subtrai a ação, pelo contrário, quanto mais contemplativo for o fiel, mais
eficaz será sua ação no seio eclesial.
Abração musical de
Wallison Rodrigues
[1]
Cf. CELAM: Manual de Liturgia 4. São
Paulo: Paulus, 2007, p. 362.
[2]
Cf. BUYST, Ione/FONSECA, Joaquim. Música
Ritual e Mistagogia. São Paulo: Paulus, 2008, passim.
[3]
VIANA, C. Wellistony. Um longo e belo
caminho. Brasília/DF: Edições CNBB, 2013.
[4]
RAHNER, Karl. apud OLIVEIRA, P. R. F. de./TABORDA, F. Karl Rahner 100 anos: teologia, filosofia e experiência espiritual. São
Paulo: Loyola, 2005, p.81.
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